Seu objetivo é manter viva a cultura afro-latino-americana. (Foto: Divulgação)
Durante os quatro séculos de contínuo processo escravista e colonialista no continente africano, o tráfico negreiro se intensificou ao ser mercantilizado, transformando em uma atividade altamente rentável o envio de africanos para o outro lado do oceano.
A procura de mão de obra barata fez com que milhões de africanos atravessassem o Atlântico em condições degradantes, como uma simples mercadoria, e destituído da própria humanidade e chegassem à América carregando consigo apenas sua herança, viva e oral.
O fotógrafo argentino busca o contato com a África. (Foto: Divulgação)
Um grande contingente de africanos escravizados se estabeleceu em países como Brasil, Cuba, Colômbia e Uruguai, tendo o corpo como possuidor de sua marca identitária e carregando em si sua memória cultural, fundamental para realizar uma reconstrução pessoal e coletiva distante de sua mãe África.
E foi a partir de fusões e sincretismos entre africanos, europeus e ameríndios que este corpo foi ressignificado, gerando novas formas de processos culturais através da dança, música e canto. Vemos no Brasil um sincretismo religioso como o Candomblé e o Tambor de Xangô, em Cuba a Santería, e procissões como o Candombe uruguaio e os Chimabángueles na Venezuela.
Desenvolveram assim organizações como meios alternativos de lutar contra os opressores, uma resistência cultural, política, étnica e social, afirmando a sua identidade e criando espaços de liberdade, no intuito de nacionalizar suas referências de matrizes africanas.
O projeto fotográfico foi batizado de África em América. (Foto: Divulgação)
Guiado pela motivação de manter viva a cultura afro-latino-americana, o fotógrafo e documentarista argentino Sebastián Beláustegui viajou diversos países do continente americano em busca das heranças culturais, documentando tanto momentos da vida cotidiana quanto manifestações tradicionais das comunidades de origem africanas. Festas de carnaval, rituais religiosos, apresentações musicais e danças típicas fazem parte do repertório captado pelo artista.
O projeto intitulado “África em América” traz exemplos que proporcionam a visibilidade de culturas ignoradas e afetadas até hoje por preconceitos. Entre outros legados culturais do continente africano, a série explora a beleza das comunidades Garifunas, em Belize, Guatemala e Honduras, cujas tradições foram incluídas nas listas de patrimônio mundial da UNESCO; os rituais da Santería em Cuba; o carnaval em Trinidad e Tobago e Barranquilla, na Colômbia; e, claro, o carnaval e rituais espirituais do candomblé em Salvador na Bahia.
Ele retrata comunidades de origem africana, eventos religiosos e por aí vai. (Foto: Divulgação)
Beláustegui, que é autodidata, pretende com suas lentes contribuir para a proteção e promoção das tradições, que ao longo da história, continuam resistindo ao tempo e engrandecendo o mundo com culturas múltiplas, complexas e ricas. Com passagens pelo National Geographic, Los Angeles Times e pela revista Newsweek, o argentino acredita no documentário como ferramenta de difusão e compartilhamento da diversidade.
Para o artista, a criatividade do documentário e da fotografia se tornam alavancas para a promoção destas culturas ao trazer novas maneiras de compartilhamento das tradições captadas. Sucesso de público e críticas, suas obras já foram expostas em galerias de países da África, Europa e América, tendo sido destaque da coleção do Museu Afro-americano de São Francisco, nos EUA.