O povo Akan, que hoje se espalha pelos territórios de Gana e Costa do Marfim, é mundialmente conhecido pelas significativas habilidades em tecelagem. Além do kente, outra produção se destaca na cultura local: os tecidos Adinkra, um dos raros exemplos de pano tradicional impresso ou carimbado na África. Caracterizado pelos símbolos visuais estampados, o tecido Adinkra, mais do que um item decorativo carrega mensagens evocativas que transmitem a sabedoria tradicional, os aspectos da vida e do ambiente e as virtudes da cultura local.
Para o especialista Anthony Appiah, eles simbolizam “a transmissão de um organismo complexo e nuançado de práticas e crenças”, formando uma espécie de dicionário de valores. Os distintos significados muitas vezes estão relacionados com provérbios, compondo um conjunto de ideias que, ao representar conceitos e aforismos, guia a ética e a política da comunidade. De forma abstrata, podem também traduzir eventos históricos, expressar atitudes particulares e até mesmo o comportamento de quem os usa.
Os padrões são formados usando carimbos de cabaça esculpidos e um corante à base de vegetais, que depois são impressos no pano de algodão cujas cores oficiais são vermelho, marrom escuro, preto ou sem pintura. Hoje em dia, com a produção de massa, é possível encontrar o tecido em todas as cores, até mesmo em tons brilhantes. Apesar do uso mais recorrente dos símbolos ser no ornamento dos tecidos, pelo forte valor cognitivo, eles também são usados extensivamente em cerâmica, logotipos, projetos comerciais modernos e até mesmo como símbolos arquitetônicos, enfeitando casas e palácios.
Acredita-se que o tecido tenha surgido no começo do século XVI. A história oral conta que Nana Kofi Adinkra, rei do povo Gyaman, afirmou que tinha o mesmo Banco de Ouro que o rei Ashanti, líder do povo Akan. Tradicionalmente, o banco de ouro é visto como uma insígnia de extrema importância que diferencia o reinado Ashanti, predominante na região, de qualquer outro. Por esta intransigência Adinkra foi sentenciado a morte e seu manto foi utilizado pelo rei como um troféu. Com a roupa, descobriu-se a tinta adinkra aduru, utilizada para o processo de estampagem dos desenhos no pano do manto.
Com o tempo, o povo Ashanti foi desenvolvendo a simbologia adinkra, incorporando suas próprias filosofias, contos folclóricos e cultura. Tradicionalmente, apenas a realeza e líderes espirituais tinham acesso ao pano, que era utilizado durante funerais e outras ocasiões especiais. Hoje, o uso se tornou popular, apesar de continuar reservado para eventos tradicionais, em que mulheres e homens se vestem elegantemente enrolados em seus belos tecidos.
No país, o centro de produção tradicional de arte adinkra é Ntonso, localizado a 20 km de Kumasi. Nas ruas da cidade, artesãos estão espalhados e é possível observá-los em meio ao processo criativo. A cidade conta ainda com algumas dezenas de lojas especializadas e um centro de turismo comunitário, onde o visitante aprende o passo a passo do procedimento e pode ainda fazer parte da brincadeira, criando seu próprio tecido. Os símbolos Adinkra, importante marco da cultura Ashanti, são hoje internacionalmente reconhecidos, conquistando pela força de suas mensagens, o coração de qualquer turista.