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Mali

Abdoulaye Konaté discute limites entre estético e político na arte
por Bianca Elias

 

Abdoulaye Konaté é um artista plástico do Mali que no se baseia na hegemonia estética europeia. O artista optou pelas influências africanas. (Foto: Reprodução)

 

 

Se a imagem pictórica (gênero de pintura que retrata a aparência visual dos seres humanos, mas que também pode ser representado nos animais) ainda está relacionada à utilização exclusiva da tinta, a pintura de Abdoulaye Konaté, artista plástico proveniente do Mali, desconstrói esse paradigma ao se firmar sobre o têxtil. Konaté estudou pintura no Institut Nacional des Arts em Bamako e no Instituto Superior de Arte em Havana, em Cuba. Até então sua trajetória seguiu permeada pela pintura tradicional e não entregue à tradição de seus país natal. Foi a partir da década de 1990 que Abdoulaye passou a se relacionar com os tecidos produzidos em sua terra.

 

 

O uso do suporte para o artista extrapola a mera utilização estética e se encontra atrelada também à forte tradição tecelã do país. Assim, o trabalho de Konaté se apropria dos materiais disponíveis em seu país para discutir os limites entre o estético e o político, bem como entre a pintura e escultura. A criação artística de Konaté evidencia fenômenos que atingem a sociedade para além das fronteiras de seu continente. Por esta filosofia, em 2015, sua obra foi um dos destaques da 19º edição do Festival VideoBrasil, que aconteceu no SESC Pompéia em São Paulo, entre os meses de outubro e dezembro. Brésil 1 (Guarani) foi concebida após visita do artista à uma aldeia guarani em Ubatuba, litoral do estado de São Paulo, e uma de suas intenções era suscitar a discussão a respeito das barreiras culturais do Brasil. Ao se aproximar do trabalho, ficam visíveis pequenas imagens bordadas nos tecidos, como o cristo redentor ou uma bola de futebol, remetendo à dominação destes na homogeneização da cultura brasileira à olhares externos.

 

 

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Detalhe da obra Brésil 1 (Guarani), concebida após visitar uma aldeia guarani em Ubatuba, em São Paulo. (Foto: Reprodução)

 

 

Ainda, Abdoulaye Konaté fundou há aproximadamente doze anos a escola de ensino superior Conservatoire des Arts et Métiers Multimédiuyaté Balla Fasseké Koako em Bamako, também no Mali. Sua passagem pela academia lhe instigou a criar uma escola onde o ensino de artes não fosse baseado na hegemonia artística europeia, mas arraigada na tradição africana. A escola se funda em três pilares: o ensino de todas as linguagens artísticas, da dança ao cinema; as tecnologias surgentes e a seu domínio enquanto nova linguagem; e a contemplação da cultura africana.

 

 

Abdoulaye já foi indicado e vencedor de inúmeros prêmios de seu país bem como os internacionais. O reconhecimento de seu trabalho nas frentes artísticas e educacionais tem grande importância em um cenário global em que se faz necessária a discussão de novos significados para as linguagens e suas potências discursivas, além do emponderamento das academias e culturas locais em detrimento das constituídas hegemonicamente mundo a fora.