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MaliCooperativa junta tradição e sustentabilidade para inovar
a arte da tintura
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

 Com receitas milenares, os tecidos malianos há um bom tempo alcançaram os olhos do mundo. O prestígio internacional não veio à toa: a realização de obras orgânicas, o conhecimento de complexas técnicas de coloração do algodão e a originalidade da arte fazem da metodologia um patrimônio histórico. Entre os destaques do país, estão os tecidos Basilan e o Bogolan, ambos, feitos inteiramente com produtos naturais, reforçam a qualidade e a força da criação artística africana. No mundo contemporâneo, a sociedade do Mali continua a desenvolver novas práticas, evoluindo a metamorfose da concepção artesanal. Nas ruas da capital, nas margens do rio e nos ateliês do interior do país, enraizada nas antigas tradições, novas técnicas de pinturas são desenvolvidas.

 

 

No ateliê NDolo, localizado na cidade de Segou, no centro do país, é possível encontrar um dos principais responsáveis pela redescoberta e aprimoramento dos procedimentos de pintura, assim como pela preservação e difusão da delicadeza da arte. Boubacar Doumbia, fundador do centro, já formou mais de 120 jovens, os ensinando o processo original e os incentivando a reinventar sua autenticidade. Afável em sua humildade, o artista e empreendedor acompanha todos os visitantes, os guiando para uma aula de pintura em tecido e abrindo as portas de NDolo e do mundo mágico dentro dele.

 

 

O passeio começa pela introdução das técnicas de confecção do tecido Basilan. De origem Bambara e Malinké, a palavra quer dizer “aquilo que pode ser tratado”. Feito 100% de algodão, o pano cru é banhado em um preparado de água com plantas medicinais, que podem atingir mais de 20 colorações entre o amarelo e o vermelho ocre. O amarelo é obtido através do banho frio de folhas piladas da planta N’galama e o vermelho através da infusão de folhas, pequenos galhos e raízes da planta N’peku. Doumbia explica que não são todas as plantas que podem ser utilizadas, mas apenas aquelas com tanino e fixativos naturais, que se prendem melhor ao algodão. A coloração final depende da mistura de cores ou da quantidade de vezes que o tecido é banhado no composto.

 

 

O segundo e ainda mais famoso tecido é o Bogolan, nome formado pelo substantivo ‘bogo’, que significa terra, e pelo sufixo lan, que significa ‘aquele que chega a um resultado’. Bogolan é o tecido que utiliza a argila como matéria-prima da pintura. Quando aplicada no tecido Basilan, a argila se fixa, criando então a cor preta. Ilustrando cada parte do processo, Boubacar explica que para a confecção do Bogolan são necessárias cinco etapas: a preparação da argila que é retirada do rio Níger e deve ser conservada e misturada por duas semanas em um jarro; a confecção do basilan onde a argila será disposta; a decoração dos motivos do tecido, feita com pincéis ou outros utensílios de pintura; a esfrega e lavagem do tecido feita apenas com água; e os trabalhos de finalização, quando o tecido pode passar por outros banhos de ervas para atingir a cor ideal desejada.

 

 

No tour do ateliê NDomo, faça você mesmo é o próximo passo. Depois de explicar as técnicas, Boubarcar distribui um pedaço de basilan aos visitantes e os convida para um momento de criatividade com a argila. Antes da pintura começar, utilizando um giz e escrevendo no chão, ele explica as simbologias de cada sinal e ideograma da cultura Bambara e Dogon que são tradicionalmente utilizadas como motivos figurativos. A cruz (dankun) significa a cruzada de dois caminhos e simboliza a disponibilidade e o sacrifício pela causa dos outros. O círculo com um ponto dentro (kolon kikèso) significa o lugar da sorte, já diferentes pontas de setas apontadas na mesma direção (jègèkolo) representando a espinha dorsal de um peixe simboliza a base ou a força central de uma ação, enquanto três linhas paralelas de zig-zag (ngolonnin) representam filosoficamente o tempo. São dezenas de símbolos, que combinados formam frases inteiras com significados ainda mais amplos.

 

 

Depois da experiência, Boubarcar começa o percurso pelas instalações de sua cooperativa, que impressiona a cada passagem. Em NDolo a produção se caracteriza em um efetivo círculo sustentável, em que cada componente utilizado em algum momento volta ao ciclo da cadeia de produção. Como explicado, as tintas são cores obtidas a partir da vegetação e de pigmentos naturais. Para recuperar a cor, as plantas ficam em banho durante dias e as folhas que sobram são transformadas em composto que a cada três meses são utilizados nas plantações vizinhas ou no pântano contíguo ao estabelecimento, onde eles começaram a trabalhar com piscicultura. Os mil litros de água utilizados e o resto da argila seguem para um recipiente especial para o processo de decantação. A água, por não conter nenhum composto químico é reaproveitada para regar as plantas da região e a argila que se acumula no fundo do recipiente volta para o ciclo da pintura.

 

 

A madeira utilizada para ferver a água do processo de criação da cor vermelha assim como os galhos da planta N’peku são queimados e a cinza é direcionada para outro processo de decantação. A água resultante do procedimento, rica em potássio, é adicionada aos baldes de cores, que ficam mais intensas com o novo elemento. A areia que sobra é adicionada à composteira das plantas para enriquecê-la. NDolo, com sua vida orgânica, além das contribuições ao meio ambiente, colabora a nível local e nacional para a geração de renda e para a transformação de uma matéria-prima abundante no país, o algodão, em produto artístico. Boubacar e os jovens ali formados não apenas revolucionam sabedorias seculares, mas também reforçam o sentimento de identidade e orgulho maliano.

 

 

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