Arte: Natan Aquino
Elegantes, eles são do tipo esguio e forte. Vestem-se com panos quadriculados vermelhos e azuis sobrepostos, abraçando atenção no cenário rodeado por montanhas. O cabelo é curto e penteado. As orelhas são furadas, os rostos tatuados com cicatrizes e nos pés levam sandálias confeccionadas com pneus de carro. Carregam inúmeras voltas de colares de miçanga branca ao redor do pescoço e um cajado, que serve para guiar as centenas de cabeças de gado que possuem. No norte da Tanzânia e no sul do Quênia, 800 mil pessoas formam a nação Maasai.
Originários da região da nascente do Nilo, os Maasai se caracterizam pela tradição seminômade e pecuarista, possuindo o maior grau de especialização do assunto em todo o leste africano. Sempre em busca de terras mais verdes para alimentar os rebanhos, eles chegaram ao Quênia e à Tanzânia há quinhentos anos e, com seus destemidos guerreiros, dominaram o território. Foi a mesma energia belicosa aliada a fortes crenças culturais que, anos depois, impediu a dominação colonial dos missionários e dos ingleses sobre as tradições e costumes da sociedade tradicional.
De geração em geração, músicas, narrações de histórias, danças e poesias passam adiante conhecimentos sobre ecologia, medicina tradicional, táticas de guerra, técnicas de criação de gado e de armazenamento de comida e, sobretudo, sobre o valor da terra: “Nós nos vemos como custódias da terra. Para nós ela é uma entidade viva sagrada. A terra contém a nossa história. É a guardiã das nossas memórias e da nossa cultura e é a protetora dos ossos dos nossos ancestrais”, explicou um dos cidadãos envolvidos no Maasai Environmental Resource Coalition, uma organização comunitária que busca proteger o meio ambiente e a cultura local.
Entre os costumes mais conhecidos que carregam a história e o conhecimento indígena Maasai para o futuro está a dança adumu, de boas-vindas. Para receber convidados, jovens de 15 a 25 anos alinham-se em fila, reproduzindo sons de batuque com a boca, e caminham dançando ao redor das habitações até formarem um semicírculo de frente para a entrada da boma, nome dado ao conjunto de casas tradicionais. As vozes vão intensificando o compasso, de modo a criar momentos de pico na música, e assim, a brincadeira começa: em cada momento de pico, um integrante da dança se joga para o alto, saltando com a leveza de uma pena, a um metro do chão. A cerimônia continua até o convidado aceitar o desafio para o pulo.
A dança tradicional é realizada também nos eventos comemorativos e é um palco para os jovens buscarem suas futuras esposas: quanto mais alto se pula, mais atraente ele fica nos olhos das mulheres. Mas, mais do que a dança, o principal atrativo dentro da sociedade Maasai é a circuncisão e todos os jovens passam pelo processo. “Circuncisão é o jeito de mostrar que você é um herói. É um orgulho para nós ser circuncidado. Significa que você está pronto para ser guerreiro, para casar, para ser adulto”, explica o loiguanani (líder regional) da região de Mto Wa Mbu, na Tanzânia.
Para o líder, o que faz dos Massai uma sociedade forte e coesa é a união entre os moleli, ou seja, entre os clãs. Ele explica que existe uma conexão e concordância entre todos os membros da etnia, cujos chefes se encontram regularmente para reuniões. Para ele, é essa união que faz com que a palavra Massai tenha peso em todas as tomadas de decisões do governo tanzaniano ou queniano, principalmente no que se refere às questões da terra, seu uso e seus recursos. Faming’o Orupulo também acredita que a preservação das tradições tem um forte papel para fortalecer a estrutura do grupo e, enquanto passa o pente no cabelo, ele vai narrando costume por costume:
O furo da orelha feito com corte de faca é uma questão estética, mas serve também para estocar snaf, tabaco macio. Para isso criam compotas de armazenamento feitas de pequenas abóboras selvagens e as encaixam na orelha. As tatuagens no rosto são feitas com um fio de metal quente em forma de anéis e servem para diferenciar os clãs. Alguns também levam tatuagens nos ombros, significa que são guerreiros e que já estiveram em batalha. Para completar o look, além dos panos vermelhos, roxos e azuis, alguns homens carregam lanças sobre os ombros e simes (facas Maasai) nas cinturas. As mulheres se enfeitam com brincos pendurados sobre o topo das orelhas e colares de pelo menos 15 centímetros ao redor do pescoço, caindo sobre o colo. Todos feitos com bijuterias e miçangas brancas.
Como costume alimentar, a refeição mais popular é carne crua de vaca ou cabra, leite e sangue fresco. Carne de caça é proibida. Eles acreditam que “Engai”, o Deus Maasai que vive nas montanhas, deu a eles todos os rebanhos de gado do mundo e, por isso, os animais selvagens devem ser deixados para as outras comunidades indígenas. Faming’o Orupulo, falando em tom de quem está revelando um segredo conta sobre uma última tradição alimentar: “temos uma mistura que serve para a cura de qualquer doença”, e, apontando para o cume da montanha que circula sua boma, continua, “um homem deve ir sozinho ao topo carregando uma única vaca. Ali encontrará raízes de plantas especiais. O ensopado feito com a carne e o sangue da vaca e as raízes encontradas preenche um homem com todas as energias que ele precisa”.
Mais do que uma sopa, mais do que os panos quadriculados que vestem e do que a força dos pulos que saltam; mais do que as técnicas de pastoreio que aperfeiçoam e do que os valores de ecologia que protegem, mais do que qualquer coisa palpável, existe um segredo que corre nas veias da sociedade Maasai. Um segredo que os torna protagonistas entre qualquer extensão de um mundo globalizado. Eles gerenciam o turismo comunitário, as associações culturais e as negociações políticas. Com destreza, transformam influências externas em instrumentos para dissipar e fortalecer a própria cultura. Não há ameaças. Os Massai são guerreiros, são guerreiros culturais.