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MaliA história Bamana esculpida
em bonecos

25 mil peças entre bonecos e marionetes. Séculos de história e tradição preservadas nos quartos da casa do artista Yaya Coulibaly. O marionetista, que alcançou fama internacional pela originalidade de seu trabalho, juntou todos os elementos da cultura tradicional Bamana com as forças da arte contemporânea para criar a Troupe de Sogolon, uma escola de teatro que tem como objetivo celebrar e preservar a história do povo do Mali através da criação e dos espetáculos de marionete. Coulibaly é a sétima geração de marionetistas de sua família, uma função importante da sociedade Bamana, que os torna responsáveis pelo link de identificação da população com suas raízes e ancestrais.

 

 

Yaya é descendente direto do rei Mamari Biton Coulibaly, conhecido por formar o império da cultura Bamana e unificar as populações de crenças animistas, que acreditam que a relação entre o homem e o mundo natural é intrínseca e que a única coisa que separa os dois é a existência de um mundo visível e palpável e outro invisível. Os bonecos, na cultura Bamana, representam um importante papel nos rituais de iniciação, eventos sociais que reforçam a conexão espiritual entre os dois mundos. Tradição que Yaya tomou como objetivo de vida preservar e salvaguardar para as futuras gerações. O artista explica que a arte das marionetes se encontra como um link social que traz o equilíbrio aos dois campos de forças.

 

 

Assim, os bonecos podem então ser encontrados em diferentes contextos da vida Bamana. O primeiro contexto é o sagrado, que acontece uma vez a cada sete anos no bosque sagrado para a cerimônia de iniciação, com bonecos e máscaras que transmitem os códigos sociais. O segundo contexto é a performance semisagrada que acontece em mudanças de estação e só pode ser presenciada pelos já iniciados, com a presença dos bonecos para marcar momentos sociais, religiosos e rituais de iniciação. O terceiro contexto é o teatro tradicional, aberto para toda comunidade, onde máscaras servem para celebrar as cerimônias domésticas como casamentos e funerais. O último contexto é o de teatro popular, com objetivo de diversão, em que os bonecos são utilizados em espetáculos para representação ou sátira da sociedade.

 

 

Para o artista, é em torno da marionete que é possível encontrar a história de seu povo, descobrindo a identidade dos diferentes grupos sociais. “É importante lembrar que o Mali não existe apenas depois de 1960. O Mali é uma das terras mais antigas do mundo. É o único país no mundo que teve tantos impérios, um sempre sucedendo ao outro. E a existente da marionete (bonecos) acompanhou tudo isso, desde três séculos antes de Cristo. Ela foi considerada como a primeira religião do homem ancestral e a primeira escola de formação do povo maliano, do povo bambara”, assegura Coulibaly, um entusiasta de sua coleção e de sua importância.

 

 

Responsável pela concepção, realização, fabricação, montagem e manipulação teatral da Troupe de Sogolon, Yaya explica que as primeiras bonecas tinham o objetivo de fazer com que as pessoas se inserissem melhor na sociedade, ensinando ao homem a melhor maneira de viver com na espiritualidade, na medicina tradicional e nos estudos. Com paixão, ele ainda afirma que as marionetes que preserva são uma das duas únicas coleções, em termos de originalidade e patrimônio, que contam toda a história do Mali, sendo a segunda os livros secretos das bibliotecas de Timbuktu. “Sou um marionetista moderno, mas com um pé na memória. A continuação da tradição para mim é um ato de responsabilidade e de concentração de amor, partilha e solidariedade”, completa.

 

 

Para Yaya, hoje os bonecos representam um carrefour de conexão e ressaltam o ponto forte do Mali: a unidade dentro da diversidade de expressão. Maior especialista da área no país, ele traz uma lista das diferentes formas que os bonecos (chamados sempre por ele de marionete) podem assumir: marionetes móveis (articuladas), marionetes semimóveis (que mechem apenas algumas parte do corpo), marionetes fixas (também chamadas de bonecos e que devem ser carregadas), marionetes habitadas (que são as transportadas e vestidas por um indivíduo),marionetes anfíbias (que são utilizadas para apresentações na água), marionetes efêmeras (que só existem por um dia, feitas de palha e folhas, queimadas depois do espetáculo), marionetes do dia (que representam o sol e possuem cores vivas e fortes) e marionetes noturnas (que representam a lua com cores suaves e frias como o azul e o verde e feitas com placas de bronze, prata ou alumínio para que reflitam a luz lunar).

 

 

Os espetáculos de sua companhia, Troupe de Sogolon, são considerados a versão contemporânea da expressão cultural dos bonecos Bamana. Preservando temáticas educativas e os objetivos culturais, ele adicionou técnicas modernas aos conceitos tradicionais e continua levando a sério o teatro como símbolo de intervenção e de sensibilização. Yaya comenta que foi preciso se adaptar aos novos contextos e enumera as diferenças entre marionetes tradicionais e contemporâneas. Destaca primeiro, o ponto de vista escultural, explicando que as marionetes eram mais estilizadas e personalizadas e que levavam de 2 a 3 para serem construídas. Ainda eram fabricadas nos bosques, escondidas de todos, e feitas somente por artesões autorizados. Não eram feitas com nenhum objetivo comercial, mas por uma questão de honra. As cores também eram diferentes, a pintura era feita com técnica de argila e com banhos de folhas naturais. O peso mudou, as mais velhas costumavam ser mais pesadas, eram enormes e não eram feitas para viajar, já que nunca saiam dos vilarejos. As contemporâneas tiveram que se adaptar às viagens e por isso acabaram perderam peso e tamanho. O próprio Yaya
Para a concepção, eram utilizadas plantas e fibras, e os bonecos eram feitos integralmente com material orgânico e natural.

 

 

Hoje, a técnica é a mesma, mas Yaya aproveita restos de materiais de reciclagem para a construção sustentável. Para o artista existe também uma importante diferença de timing: “Antes não existia um tempo determinado para o espetáculo que podia durar de horas a dias. Hoje nós limitamos o tempo porque adaptamos o uso da marionete em função da evolução da ocupação cênica”. Ainda, tradicionalmente, a palavra era codificada. Apenas o iniciado compreendia a mensagem do boneco, que então a transmitia aos outros. Hoje a marionete fala uma língua universal, se adaptando ao contexto urbano. Yaya Coulibaly, no entanto, soube trabalhar com todas as mudanças e mesmo assim continuar conectado com suas raízes. Seu trabalho, mais do que arte, é um patrimônio da cultura Bamana. “Nós esquecemos quem nós somos. Nós esquecemos de ser o homem no centro do desenvolvimento. A única arma eficaz para lutar contra as agressões e contra guerra é a cultura. E o teatro de marionetes é a minha”, termina o artista.

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