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ZimbabweDo teatro colaborativo ao
teatro comunitário
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Eles são dois irmãos. Cont e Styx Mhlanga. O primeiro entrou no mundo do teatro por engano. Como profissão dava aulas de karatê. Um dia, por um daqueles acidentes do destino, assistiu a um ensaio teatral, se apaixonou e resolveu incorporar o drama à sua carreira. Autodidata, começou praticando técnicas básicas, depois arriscou escrever algumas peças. Em poucos anos, era o diretor e roteirista mais renomado do Zimbábue, responsável pelo desenvolvimento de um gênero conhecido e estudado em todo o mundo: o teatro para ação comunitária. Styx, ligeiramente mais novo, seguiu os passos do irmão e hoje é peça chave na cena contemporânea do drama no país. Cont agora começa a descansar da produção de peças e Styx, mais ativo do que nunca, segue ávido com o bastão.

 

 

Estilos diferentes, mas inspirados um no outro. Ambos, cada um a seu modo, engajados e com compromisso irrevogável com a verdade. Para Cont, o teatro é a voz do país. Uma voz que fala diretamente com as pessoas e que compartilha da mesma linguagem de seu povo. O ex-diretor explica que o teatro representa fortemente a cultura africana contemporânea, revelando o que jornais e outras mídias não revelam. Para ele, o teatro mostra que a cultura africana é um livro interativo. Não é estática, não é retrógrada e não é uma cultura que olha só para o passado.

 

 

A relação de Styx com o teatro da verdade é tão sensível quanto à de Cont. “Eu sempre senti que o ser humano tem uma tendência a reagir à verdade, particularmente nas sociedades em que ela não está sendo falada. As pessoas precisam dela e o teatro tem um papel natural de tentar fornecer a verdade da condição humana. No teatro somos investigadores das nossas próprias vidas”, explica o irmão mais novo, que entende que como diretor o seu papel é facilitar esse processo, esculpindo os movimentos e os diálogos das peças, quebrando as emoções presentes e extraindo a verdade delas.

 

 

Como estilo, Styx se identifica com a direção colaborativa e explica que a criação é conjunta e que o diretor jamais sabe tudo, sendo muitas vezes guiado às situações significativas pelos atores e pela sociedade. Para ele, tudo – histórias, narrações, peça, scripts – deve ser espelhado na comunidade e relevante para os problemas, situações, turbulência e celebrações da mesma. “Eu quero que as pessoas se identifiquem. Quero um trabalho que eduque, que sensibilize, que cause reações, que provoque as pessoas a mudarem. Quero que as pessoas venham ao teatro e saiam transformadas em melhores seres humanos”, elucida o autor que tem parte de sua obra inspirada no brasileiro Augusto Boal.

 

 

O teatro do oprimido de Boal e o colaborativo de Styx têm a mesma raiz do Teatro para a Ação Comunitária de Cont. O estilo é baseado na participação ativa da comunidade como protagonista desde o bê-á-bá da construção da peça. Os stakeholders são envolvidos em todos os passos da criação: do script até a atuação. Antes de qualquer esboço ou rascunho, o diretor vai à comunidade para pesquisar e traçar um roteiro junto aos moradores locais, que serão também os atores e aqueles a decidirem o tema a ser tratado. Depois da performance e a partir das questões surgidas com a peça, nasce um debate. E do debate nasce a ação comunitária.

 

 

Cont, apesar da fama, é mais do que humilde para falar do seu trabalho. Quando perguntado sobre o próprio estilo, brinca: “às vezes acho que é o estilo do tipo ruim. Porque não penso muito no estilo, vou direto ao assunto, sem metáforas, usando diálogos diretos e componentes visuais de fácil compreensão”. Já a técnica utilizada depende de cada peça. Mas irrevogavelmente sempre que encontra algo novo, leva antes para a comunidade, para ver se eles entenderam e gostaram – o sangue do teatro comunitário corre forte nas veias do autor, diretor e produtor. “Aqui não usamos da história do teatro formal – o teatro é para nós”, delineia Cont, que sobre o estilo conclui: “eu não gosto de escrever sobre cultura e tradição, eu gosto de compartilhar cultura e tradição”.

 

 

O site Afreaka conheceu e entrevistou os dois separadamente para descobrir no minuto final da última entrevista que os renomados artistas eram irmãos de sangue. Com estilos bem diferentes de direção, as obras dos irmãos convergem nos pontos ideológicos e ambos acreditam em comunidades ativas, que podem através do teatro exercer o protagonismo social. Cont e Styx, mais do que peças-chave no mundo da arte contemporânea africana são responsáveis por processos únicos de desenvolvimento comunitário mundo afora.

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