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MoçambiqueA história de Moçambique
em preto e branco
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Entre seções de hachuras, blocos claros e escuros, intensos sombreamentos surgem personagens desformes, geométricos, caricatos. Alguns se fundem a objetos e animais, outros carregam todo o peso humano nas costas. Trabalhados em preto e branco estão ilustrações que fazem releituras da história desde a chegada dos europeus em Moçambique. A desumanização, as luxúrias do poder, a materialização do corpo da mulher também se mesclam nas formas cubistas preenchidas por riscos pretos cheios, pontilhados ou tracejados do moçambicano Justino Antonio Cardoso.

 

 

Para falar de suas inspirações o artista é do tipo que devaneia dentro dos limites da consciência. Fala sempre ludicamente, usando às vezes referências incompreensíveis. E assim forma sua graça. Para explicar de onde vem a criatividade, ele diz ter um alento constante: a musa, definida pelo ilustrador como a mãe das divindades, alguém que anda com pessoas como ele. Se a musa é uma religião, uma crença, uma inspiração não fica claro. Tampouco se é uma criação dele ou pública. De qualquer forma, não há dúvidas, de que é ela quem faz com que não haja horas e nem limites para os momentos criativos, que chegam a todo tempo na mente inquieta do rapaz.

 

 

Como quase todo artista, Justino aprendeu a desenhar sozinho na infância. E não demorou muito para ter o seu primeiro trabalho publicado, sendo logo convidado a expor no Museu de Nampula, cidade do norte de Moçambique, distante 250 km da sua cidade natal Namapa. Um sucesso emendou no outro e sua vida foi ganhando novos trabalhos, novas exposições e novos livros: somando quatro publicações internacionais. Todas fazendo uma releitura de episódios históricos: a resistência do Rei Komala contra a invasão colonial, a vida do presidente Guebuza, as lendas do povo Makua e o desenvolvimento da província de Nampula.

 

 

A temática do artista está sempre rodando as causas sociais e seu olhar crítico pode beirar o ácido quando a intenção é denúncia. É o caso de sua atual exposição, que coloca holofotes sobre a existência da corrupção não apenas política, mas que também abraça outros setores do país. Os ‘frutos podres’ da exportação do desemprego, do tráfico de órgãos, das mulheres semáforos, estão todos desenhados e expostos nos painéis do museu. Com Justino não existem meias palavras, é direto e não precisa de entrelinhas para abordar o tema que quer. As expressões de seus personagens, doloridas, expressionistas, quase ‘cartunizadas’, exemplificam a sua linha estética.

 

 

O desenhista, sobre seu estilo, afirma categórico: “Sou épico, não lírico”, como quem não quer deixar espaço para dúvidas. Para ele, o épico é uma pessoa persistente no trabalho, perspicaz, espontânea e muito contundente – termo que se aplica também ao seu traço: “é violento, com ação, mas positivamente. Gosto de pensar que minhas linhas lembram aquela música do Bob Marley, Stand Up, sabe? Erga-se. Faça alguma coisa.”, explica caindo em risos. Para o autor, a intensidade tem conexão direta com a produção e não publicar seu trabalho é o mesmo que estar no limbo. “É uma situação de não estar morto nem vivo, sabe? Apenas a viver”, poetiza Justino para explicar sua proatividade. Mas a sensação de apatia criativa no momento não é uma ameaça. Justino está preparando sua próxima publicação, que abordará a multiculturalidade africana pelos olhares de suas testemunhas.

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