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MoçambiqueEsculturas que atravessaram
o tempo
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

John Daniel enquanto conta a vida que levou vai esculpindo nas mãos os detalhes da sua cultura. “Sou John Daniel, sou Maconde”, se apresenta objetivo o senhor de meia-idade que está trabalhando o perfil de um rosto feminino no pedaço de pau-preto. Sem pausa, emenda com o sotaque cadenciado do português moçambicano: “Aprendi a fazer esculturas com meus pais, que herdaram dos meus avós. A tradição, eu escolhi para não deixar morrer minha cultura”. Já são mais de 200 anos que a escultura permeia os costumes macondes, se afirmando como destaque artístico do continente e principal representante do processo de afirmação cultural de seus criadores.

 

 

O povo, renomado por sua sensibilidade estética, habita o sul da Tanzânia e o norte de Moçambique, na região do Cabo Delgado formando uma população que já ultrapassa a casa de um milhão. Tradicionalmente, as esculturas eram consideradas uma forma de diversão, sendo confeccionadas para fins de magias e rituais ou para usos ornamentais domésticos. De modo geral, representavam os espíritos dos antepassados e eram enfeitadas com peças com fibras vegetais, tecido e cabelo, sendo a madeira utilizada a sumaumeira brava. O uso de pau-preto, modelo que ficou reconhecido internacionalmente, veio mais tarde.

 

 

John Daniel, que raramente levanta o rosto para falar, para não dar pausa ao trabalho, não se lembra da arte antes do pau preto, que busca na mata semanalmente, mas confirma, no entanto, que a profissionalização como artista é algo novo, dos últimos 50 anos. Seus avós, por exemplo, eram agricultores que, esculpiam e talhavam durante as horas vagas. Foi no meio do século XX, que surgiu um mercado, formado pelos colonizadores portugueses e outros europeus, transformando a escultura em uma nova forma de sustento. Tal período é considerado, depois da ‘arte antiga’, o segundo momento estilístico da escultura maconde, conforme Eduardo Medeiros, pesquisador e antropólogo especializado na área de estudo.

 

 

Quando os artistas começam a se profissionalizar, a arte ganha um caráter mais realista. Pessoas, animais, situações cotidianas passam a ser representadas pelos artífices para satisfazer encomendas dos compradores, que também preferiam o uso do pau-preto por sua maior durabilidade, mudando então o rumo do processo. Os escultores se adaptaram ao material e acrescentaram às obras um traço mais fino e acabamento ainda mais delicado. Por outro lado, contrapondo-se com a demanda do mercado, a arte de ‘horas vagas’ continua existindo e ganha um forte cunho político-social que critica intensamente a presença do colonizador e suas consequências dentro da própria da cultura maconde.

 

 

É apenas após a independência que tem início a terceira fase artística. Com o contexto da recuperação da identidade e a busca por valores africanos surgem novos conceitos na elaboração da escultura, que passa a ser chamada de moderna. Nesse período, as obras ganham um caráter mais abstrato, tendência crescente até os dias atuais. Além disso, passam a representar símbolos delicados dos valores sociais macondes. As representantes desse gênero, que são conhecidas como Ujamaa e revogam a importância da vida comunitária africana, se tornaram o principal modelo contemporâneo da arte, inspirando escolas expressionistas de diferentes partes do globo.

 

 

“Ujamaa significa união, da família, da aldeia, dos antepassados. É a representação da comunidade”, explica o escultor que lixa a peça, começando o processo de finalização da escultura. “Os itens ujamaas são feitos utilizando a estrutura do tronco para dar forma a imagem, com personagens estilizados que saem da base principal. Todos conectados”, explica John Daniel, que afirma não ter segredo para esculpir uma estátua que não a imaginação e a prática. Pausando pela primeira vez o trabalho para responder o que a escultura significa ele replica: “Isso é cultura. Significa um sinal, uma identificação. Significa ser Maconde”.

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