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Burkina FasoO contraste entre a savana e a expressão artística
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

A história é sobre um grande líder, reconhecido pela população por sua sabedoria e prudência, que reinava na região central de Burkina Faso, terra fértil e produtiva. Seu irmão mais novo, que almejava ser rei e ter um governo próprio, lhe pediu que cedesse um pedaço de seu reino. O grande líder aceitou, no entanto, explicou ao caçula que governar não era um luxo, mas um trabalho árduo que deveria ser feito com disciplina. Então, colocou fogo em uma árvore e disse: “até onde o fogo espalhar, a terra será sua. Um líder começa do zero e você começará o seu reino assim”. O irmão aprendeu a lição e fez da região um próspero vilarejo. Lenda ou não, é esta a história do nascimento da cidade de Laongo, vila localizada a 32 quilômetros da capital do país.

 

 

A região da terra queimada guarda hoje em seu ventre um pequeno tesouro cultural. Ali, desenvolveu-se um afloramento granítico, em que milhares de pedras de tom cinzento brotam do chão camuflando-se entre as árvores e os galhos secos da savana onde se descobre um formidável terreno de expressão africano, em que artistas deixaram suas impressões e inspirações. Esculpidas entre as pedras e incrustadas nas rochas, estão centenas de esculturas contemporâneas, que traçam com delicadeza a cultura e o cotidiano da população africana. Com suas formas abstratas e naturalistas, as Estátuas de Laongo formam um museu de arte a céu aberto, que jorra no meio das plantas locais um choque contrastante entre paisagem e expressão artística.

 

 

As esculturas começaram a ser construídas em 1989, durante um simpósio criado pelo artista burkinabé Sidiki Ky, que teve a ideia de utilizar as pedras presenteadas pela natureza para criar um centro de expressão cultural de escultores do mundo todo, sobretudo da África. O projeto, que completa 25 anos em 2014, realiza, desde sua inauguração, oficinas bienais, juntando de 20 a 30 artistas de diferentes horizontes a cada simpósio. Os encontros são temáticos sempre envolvendo os momentos cotidianos e os valores culturais da vida africana. O objetivo é juntar escultores de diferentes nacionalidades para materializar em granito uma experiência artística, permitindo aos participantes uma oportunidade singular de criar novas referências estéticas, trocar experiências e exprimir a céu aberto seus respectivos talentos.

 

 

Cada simpósio tem a duração de trinta dias e é antecedido por um momento de celebração, que marca o pedido aos ancestrais da região para proteção dos artistas participantes. Além da produção das obras de artes no museu de esculturas rodeado pela natureza, nos encontros também são promovidas oficinas para os jovens da região e palestras com os convidados. Toda a concepção do projeto é fruto da imaginação fértil de Sidiki Ky, uma figura emblemática e respeitada, considerado uma inspiração por muitos membros do mundo da arte dentro e fora de seu país. O escultor conseguiu com a construção artística nos granitos uma chance de deixar vestígios indeléveis da cultura africana. Para Ky, que acredita nos frutos de esforços, a colheita só vem depois da semeação: “é preciso se divertir um pouco, não se levar muito a sério. Eu tento ser modesto e falar o que penso. Mas, é o trabalho a base de qualquer sucesso. O trabalho, o trabalho e o trabalho”, explica o artista que não gosta de corpo mole.

 

 

O parque escultural de Laongo hoje conta com quase mil estátuas. Apenas na última edição, ocorrida em 2012, foram produzidas 212 peças. O tamanho sucesso do projeto não era previsto e o espaço dedicado inicialmente para a construção das estátuas acabou se tornando pequeno demais e ficou saturado. Assim, inaugurou-se para os próximos eventos um segundo campo de esculturas, adjacente ao primeiro. No total, as duas regiões abraçam um espaço de 10 hectares. A visita turística pode ser realizada em ambos, sendo o campo inicial o mais afamado. O passeio é sempre guiado, com explicações históricas e culturais sobre cada uma das peças. A duração fica a critério do turista, que pode escolher percursos de poucos ou muitos quilômetros. A descoberta de cada obra é acompanhada pelo guia, que com memória fotográfica, explica a data, o autor e a teoria de cada uma das centenas de esculturas camufladas entre os conjuntos de pedras ou destacadas em seixos solitários.

 

 

Espaçadas entre a natureza selvagem que as acolhem, as esculturas antropomórficas, zoomórficas, figurativas ou abstratas trazem ao ambiente o seu caráter original. Ásia, América, Europa e África presenteiam suas visões artísticas sobre o continente anfitrião. Grandes artistas como Jean-Luc Bambara, Guy Compaoré e Claude Kabre dividem o espaço exprimindo no granito a impressão de suas sociedades. O monumento de entrada do parque, formado por três grandes torres, representa a expressão contemporânea do projeto: a chegada do século XXI. É uma introdução ao percurso estético que será descoberto entre as esculturas seguintes. Entre os galhos secos e o chão avermelhado, estátuas irmãs, em perspectiva, evolutivas ou complementares, juntas formam uma importante manifestação da arte contemporânea de Burkina Faso e abrem um caminho real para o conhecimento do mundo local.

 

 

“A cabeça do viajante” reflete sobre a ambiguidade sentimental dos primeiros imigrantes do país, trafegando entre novas descobertas e a saudade de casa. “O canto da pedra”, que forma um instrumento musical de Burkina com a composição de duas pedras, lembra a importância e o papel inicial da música que representava o mundo agrícola, social e religioso do país. “O grito” é uma filosofia sobre a possibilidade do país de degustar de seu sofrimento e a tentativa de transformar a dor em conforto. E por aí, cada esculpida no granito, forma uma peça de representação da forte e complexa cultura local. Hoje, o Parque de Laongo traduz o orgulho do povo do Planalto Central, que assiste brotar em sua região um símbolo da arte burkinabé. Inspirados, jovens e estudantes da vila passaram a visitar o centro, participando frequentemente de ateliês, absorvendo novas técnicas e descobrindo as próprias aptidões, para quem sabe no futuro, serem eles os responsáveis pela nova referência estética do país.

 

 

Saiba mais: http://www.laongo.org/

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