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QuêniaSarakasi: desenvolvimento
através do circo 
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Onze pessoas vestidas de calça bege e regata branca encaram o público. A respiração alta dá para ser ouvida à distância. Os braços, que inicialmente estão esticados apontados para o chão, sutilmente vão formando noventa graus com o corpo. Aos poucos os lábios vão se distanciando e a boca vai ganhando ar e espaço até que a saliva começa a escorrer pelo rosto. Os movimentos vão auferindo ritmo e força e as expressões vigor. Entre momentos de silêncio, de respirações afobadas e de gritos aleatórios, a dança toma vida. Durante os 40 minutos de duração, o espetáculo é intenso, é violento: arrepia. Os bailarinos, que nunca deixaram de afrontar os espectadores com olhos fugazes, sentam-se nas beiradas do palco e encarando a plateia inesperadamente perguntam: alguma dúvida? E assim, em um diálogo analítico, acaba a apresentação.

 

 

O espetáculo, que através dos movimentos discute a violência em massa e a injustiça, é fruto de um dos inúmeros projetos desenvolvidos no Sarakasi, um núcleo cultural de circo, acrobacia e dança localizado em Nairóbi. Fundado em 2001, o centro nasceu com o objetivo de facilitar as artes performáticas entre os habitantes das zonas mais carentes da cidade. Ali, além de toda a capacitação técnica, também são criadas plataformas de ‘treinamento para a vida’: aulas sobre gravidez, AIDS, economia familiar, moda e higiene, violência etc. A ideia não é formar apenas acrobatas e dançarinos, explica a fundadora do projeto Marion van Dijck, mas formar pessoas fortes, independentes e empreendedoras do próprio talento.

 

 

Misturando cultura e desenvolvimento, a organização trabalha em três diferentes níveis. O primeiro é o outreach, em que os acrobatas se apresentam nas favelas em áreas abertas, treinando crianças e jovens interessados. Quem se compromete com a ideia e começa a frequentar o Domo, nome popular dado ao prédio do Sarakasi, passa a fazer parte do nível 2, em que os bailarinos são treinados para alcançar o nível profissional e passar a gerar renda com as performances. O terceiro e último nível é baseado no conceito de empreendedorismo cultural, em que os jovens são treinados para o gerenciamento da profissão. Daí começam a nascer contratos de trabalho em Nairóbi, que se expandem para nível nacional para depois alcançarem Uganda, Tanzânia e mundo afora. Hoje, os jovens formados no Sarakasi estão espalhados pelos cinco continentes do mundo.

 

 

“A principal razão quando o projeto começou foi para criar oportunidades para artistas”, conta Marion “eu acredito que esses acrobatas mostram o lado positivo da África, do Quênia. O que se encontra é toda aquela baboseira de HIV, corrupção, violência. África isso, África aquilo é o que as pessoas de fora pensam. Mesmo quando os turistas vêm para cá, vêm para ver os animais e a natureza, mas deveriam vir pela cultura e pelo povo. O povo é lindo e criativo. Nós vimos uma oportunidade aí. Mostrar esses talentos, treinando e facilitando os artistas”. Hoje, o Sarakasi, que em suaíli, significa nada menos que ‘circo’, já conta com 34 funcionários na folha de pagamento, 90 acrobatas e milhares de envolvidos entre oficinas, cursos e workshops.

 

 

O projeto mais popular é o Programa de Construção de Audiência. O conceito é simples: criar audiência para os programas, acrobatas e músicos. E para sorte dos moradores da cidade, não faltam eventos gratuitos na agenda. Entre eles, o internacionalmente famoso, Sawasawa, realizado uma vez por ano. Tem também o Treinamento Talanta, para acrobatas surdos, o “The Jump Off”, com seção de open mic para artistas iniciantes de hip-hop, o “Amanga Lazima”, que significa ‘Paz como um dever’, em que são realizado projeções de imagens de paz pela cidade. Ainda, muitos projetos nascem no Sarakasi, mas ganham tanta força que acabam virando independentes, como é o caso da Rádio Ghetto. Por fim, a casa também realiza intercâmbios culturais, com direito a workshops e parcerias com África do Sul, Gana, Brasil, Zimbabwe, Moçambique, Noruega e quem quer que esteja interessado. O mesmo vale para os jovens que querem virar acrobatas: para fazer parte de qualquer um desses projetos, basta bater na porta do Domo.

 

 

Sarakasi Trust:

http://www.sarakasi.org/

 

*Fotos 2 a 5 e vídeo concedidos pelo Sarakasi Trust

 

Confira alguns acrobatas do Sarakasi Trust:

GALERIA DE FOTOS