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MaliFeminismo em preto e branco
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

 Quem é a mulher na sociedade africana? Qual é o seu papel e importância? Até onde vai a desigualdade e até onde vai o empoderamento? Muitos dos dados sobre o tema têm como referência números de comparação ocidentais, que não se aplicam na estrutura cultural existente na África. Para saber responder essas perguntas, mais do que estatísticas de instituições internacionais é preciso percorrer caminhos mais profundos e conhecer intimamente a estrutura familiar e social de cada país do continente. A igualdade de gênero é algo que o mundo todo está em busca (ou deveria estar), e alguns exemplos de protagonismo das mulheres africanas poderiam encurtar o caminho da procura.

 

 

Na África, as mulheres estão fora nas ruas trabalhando e dentro de casa tomando decisões. Sua força e sua capacidade múltipla de ação são exemplos constantes para a nova geração. Fotos que capturam o alento feminino africano estão espalhadas pelo mundo virtual e físico – e por um motivo que passa do sutil, sempre comovem. Não é à toa que estudiosos, intelectuais e artistas as escolhem como temática central de suas inspirações. É o caso de Noumouké Camara, grafista maliano, que acaba de lançar a coleção de quadros “Mulheres” em homenagem à energia feminina de seu país, que segundo ele, move mundos, estando no começo, no meio e no fim de todo e cada processo humano.

 

 

Em preto e branco, com traços fortes e uma mistura fluxa entre linhas retas e curvilíneas estão representados os diferentes momentos da mulher no Mali. O artista percorre entre as formas figurativas e abstratas para trazer à luz o que considera mais importante em seu trabalho, a valorização da forma feminina, seja a interior ou a exterior. Para ele, a arte não tem que servir para a beleza. A arte tem que contribuir para o desenvolvimento social e político de uma nação, tema que ele confia que com seus quadros consegue provocar e sensibilizar. “Minhas obras dessa coletânea são um meio de informação, eu falo e eu interpelo pelo viés da mulher”, declara em tom promissor.

 

 

“A arte não agrada nossas autoridades porque sabem que falham com os direitos que deveriam fornecer e não existe lugar melhor para equilibrar o poder do que a arte. A arte é o equilíbrio entre a política e o poder executivo. E é isso que busco com meus quadros”, explica Camara que começou a carreira com uma pequena obsessão quando criança com pôsteres de cinema cujo estilo gráfico o fascinava e que ele passou a tentar reproduzir em inúmeros desenhos. Foi depois, quando descobriu que existiam pessoas que realmente viviam daquilo e que eram chamadas de artistas, que decidiu se absorver no costume. Passou a se aproximar de pintores, cartunistas e designers para aprender e foi aos poucos desenvolvendo o próprio estilo.

 

 

Os seus quadros evocam o diálogo entre mulher e a guerra, a crise econômica do país, a saúde e a sociedade. Instigado pela vida cotidiana, o artista inspira-se na globalidade, na cultura e na vida de todos os dias, em que segundo ele, a mulher desenvolve o papel principal. Criticando a visão estrangeira, ele declara: “No Mali, a mulher está no centro das decisões. Os europeus acham que as mulheres africanas não têm voz participativa, mas eles não pesquisam ou conhecem para saber. A mulher aqui participa de todas as decisões, só que de uma forma invisível para a sociedade externa. Se a decisão é tomada por homens durante o dia é porque antes, de noite, foi tomada pelas mulheres. A opinião da mulher na sociedade maliana não é apenas algo extra, mas central. As decisões finais não são tomadas sem a concessão da mulher. Ela apenas está presente em um plano diferente do físico”.

 

 

Um dos exemplos da opinião contundente de Camara está no seu quadro intitulado de “Casa a Palabra”, que representa uma instituição de peso do país, presente na maioria das cidades e vilarejos, onde homens mais velhos se reúnem para discutir sobre as decisões importantes da comunidade que devem ser tomadas. No quadro, que faz parte da coleção “Mulheres”, a figura feminina não está presente, no entanto, vem representada em simbologias nos detalhes da construção, camufladas entre os troncos e entre as estampas do grafite: “Aqui eu mostro a presença da mulher fora do plano físico. Ela está aqui só não é possível enxergá-la. Meu estilo é uma questão de emoção, bem representado por esse grafite”, conclui. Dentro e fora dos quadros, o protagonismo feminino africano, inspiração de Camara e de muitos outros artistas, avigora as energias na luta diária de igualdade de gêneros.

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