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SenegalFadiouth, Gorée e Saint Louis: entre ilhas e arquitetura
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Entre os símbolos nacionais do Senegal, um se destaca: a pirogue, nome local do barco feito de madeira utilizado para pesca e transporte no país. Por toda sua costa, elas colorem o mar, as praias e os portos. Pintam também os rios, onde se perdem navegando país adentro. Além de símbolo, meio de transporte e pulso econômico, foi quem trouxe à nação o nome de Senegal. A palavra Senegal é uma deformação da expressão wolof (língua nacional) suñu gaal, que significa “nossas pirogues”. Existem outras versões sobre a origem do nome do país, mas foi com essa que a população se identificou. As pirogues reforçam a solidariedade nacional e com elas a expressão pegou: “todos no mesmo barco”.

 

 

A relação com o mar e a paixão por cruzar águas não é de hoje e foi em suas pirogues que os pescadores foram descobrindo e ocupando uma a uma as ilhas do atual Senegal, que se tornaram berços culturais da formação nacional. Hoje, a parte insular do país carrega história, costumes e folclore da identidade senegalesa. Entre as ilhas que guardam a costa e a protegem do Oceano Atlântico, três se destacam: Fadiouth, Ilha de Goréé, Ilha de Saint Louis. Prédios históricos tombados, calor artístico e vivacidade provocada pelas coloridas pirogues distinguem o trio insular.

 

 

Saint Louis, fundada no século XVII, foi capital da colônia francesa até 1902 e capital do Senegal até 1957, marcando a história econômica e cultural do país. A região pertencia ao reino de Walo, mas sua localização estratégica, abraçada por dois braços do rio Senegal em sua foz, fez da ilha durante séculos hub entre navegadores e comerciantes que viajavam pelo oeste africano. A arquitetura da cidade hoje carrega as marcas do intercâmbio de culturas e populações que ali se instalaram. Construções preservadas portuguesas, venezianas, holandesas e francesas trazem um toque estético único com edificações com fachada de calcário, casas com telhado de telha dupla, varandas de madeira e corrimãos de ferro forjado. Marca ainda a arquitetura da ilha, a ponte de Faidherbe, projetada por Gustave Eiffel, o mesmo arquiteto da célebre torre parisiense e a Grande Mesquita, única no mundo que possui um sino e um relógio.

 

 

Tudo somado ao plano urbano octogonal e ao sistema de cais que envolve a cidade trouxeram à ilha o título da Unesco de patrimônio histórico mundial. A instituição considera Saint Louis o primeiro laboratório da cultura hibrida e do mix cultural contemporâneo da África do Oeste. A cidade, também conhecida como Veneza africana, é formada por três regiões, a cidade continental, a ilha principal e a ilha dos pescadores chamada de Guet Ndar, um estreito fio de areia onde hoje vivem mais de 25 mil pescadores, responsáveis pela mais importante atividade econômica da região. É ali que desfilam as pirogues, com suas pinturas únicas, espalhadas pelo mar durante e dia e arranjadas lado a lado no cais ao entardecer. A cidade, que já foi o principal centro urbano e de difusão cultural da África Subsaariana entrou em declínio econômico quando o país teve a capital transferida para Dakar. No entanto, apesar de problemas infraestruturais, Saint Louis mantém viva e pulsante a cultura local, sendo sede de importantes eventos do calendário do país, entre eles o festival internacional de Jazz.

 

 

Outra ilha rica em eventos e programações é Gorée. Também tombada pela Unesco como patrimônio mundial histórico, abrigando importantes construções coloniais, é considerada pelo organismo como a Ilha da Memória, “símbolo do tráfico de escravos e testemunha de uma das maiores tragédias da humanidade”. Embora alguns historiadores, entre eles o da própria Unesco, afirmarem que a ilha, do século XV ao XIX, foi o maior centro de comércio de escravos da costa africana com o tráfico de mais de 20 milhões de pessoas, outros, como o americano Philip Curtin, rebatem dizendo que Gorée é mais um ponto simbólico do que histórico, afirmando que a ilha era um parada de abastecimento do roteiro marítimo e que o tráfico foi minoritário comparado com outros lugares da costa africana: entre 900 e 1500 pessoas.

 

 

Independente das versões, Gorée é hoje considerada uma lembrança da exploração humana e um santuário de reconciliação, definido pela Unesco como “um destino de peregrinação para a diáspora africana, um hall de entrada para o contato entre o Ocidente e a África e um espaço para o intercâmbio e o diálogo entre culturas através do confronto de ideais de reconciliação”. Com 28 hectares e distante 3,5 quilômetros de Dakar, a ilha é acessível somente por barco, tendo sido a pirogue o principal meio de locomoção local durante séculos. Já hoje, o acesso é simples: saindo de Dakar, uma embarcação de grande porte faz oito viagens diárias de ida e volta. Gorée se tornou um centro de intensa atividade cultural, com constantes festivais e exposições, e intelectual, com exemplos como a Universidade de Mutants, a Fundação Soros e o Colégio feminino Mariama Bâ, que hospeda as melhores alunas do país. Suas ruas, situadas nas sombras de belos exemplos da arquitetura portuguesa e francesa, são repletas de artistas e artesãos, que realçam as ruas com suas obras.

 

 

Sem o título da Unesco, mas esbanjando tanto ou mais charme que as outras duas, está a ilha da cidade gêmea Joel-Fadiouth. Enquanto Joel fica na parte continental, Fadiouth, ligada por uma ponte de madeira de 490 metros, forma apenas uma pequena porcentagem da cidade, mas a mais atrativa. Também conhecida como Ilha das Conchas, com 500 metros de diâmetro, a vila abriga 12 mil pessoas. Circundada por manguezais, baobás e acácias, a região é um santuário de gaivotas, pelicanos, flamingos, mexilhões e ostras, por onde passeiam e trabalham os pescadores em suas pirogues. Mas não é a natureza que encanta e sim a arquitetura: com casas, ruas, muros e bancos construídos com conchas. A própria ilha é artificial formada por sambaquis, que alcançam até nove metros de profundidade. As conchas começaram a se acumular há 800 anos por dois processos: o movimento marítimo que arrastava as conchas e a população que começou a construir barreiras para impedir o avanço da água.

 

 

Além da arquitetura insólita, entre os destaques do passeio, está o Baobá Sagrado, que segundo seus moradores protege a ilha dos maus espíritos. Para desejos e pedidos, é possível se conectar com a árvore colocando a mão esquerda no tronco – “a mão do coração”. Há ainda os que dançam ao seu redor para pedir uma boa temporada de chuva, explica Anto, morador local. Apontando para a estátua da Virgem Maria em frente à árvore, ele ainda explica que um dos orgulhos de seus moradores é a harmonia religiosa presente na vila: cristãos, muçulmanos e animistas vivendo pacificamente e dividindo tradições: “Fadiouth é a expressão viva do sincretismo religioso e do diálogo. Aqui quando tem uma festa de uma religião, a outra vem junto para celebrar”. O diálogo é visível no cemitério, ligado a ilha por uma segunda ponte, onde entre baobás e acácias ficam lado a lado túmulos cristãos e muçulmanos – também feitos de conchas, que adornam a turnê e completam as sutilezas de Fadiouth.

 

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