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QuêniaFlutuando com jim Chuchu
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Fotógrafo, videomaker, ativista social, músico? Não é possível definir Jim Chuchu em um só título. Chuchu é um artista flutuando entre todos os mundos, constantemente evaporando-se de um e concretizando-se em outro. Para o próprio artista, responder a pergunta ‘o que você faz?’ é impossível. Não existe uma resposta estável, fixa, concreta. E nem nunca existirá. Para que sua arte exista, ele precisa dessa constante dissipação de mídias. Cansa-se de uma para criar fertilidade na outra. Chuchu é naturalmente multitask.

 

 

Magro, quase baixo, se encaixaria na tribo urbana dos hipster de Nairóbi: óculos de aro grosso, pulseira mais grossa que o pulso e uma camiseta preta, que traz contrastado em branco nove caricaturas de estereótipos da população africana trabalhando nos movimentos sociais nos Estados Unidos. A voz do artista é suave e mansa, tão mansa que transforma seus 29 anos na segurança de quem tem o dobro de idade e de experiência. Não tem pressa para falar e pronuncia as palavras da primeira à última sílaba, ajeitando de quando em quando os óculos com uma empurradinha do lado esquerdo.

 

 

Jim Chuchu conta que ainda está tentando descobrir exatamente para quê veio ao mundo, questão que talvez nunca encontre uma única resposta. Mas ele sabe que existe algo concreto que permeia todas as suas obras: ‘fazer o trabalho porque se quer fazer’. A ideologia parece simples, mas é difícil encontrar alguém que a aplica com tanta fidelidade quanto o flutuante artista. Chuchu, que se consagrou em todas as áreas de atuação, vai contra a indústria cultural e o mercado de gostos prontos. E se tem algo em que ele acredita é que a arte não tem que ser feita para a sociedade consumi-la. A arte para ele é fazer o que sente.

 

 

E a teoria se aplica à prática na carreira do prodígio. Com sua banda Just a Band (Apenas uma Banda, na tradução livre) sofreu essa pressão desde o momento em que foi criada, sempre sendo questionada sobre o estilo de música que estavam produzindo: não popular e acima de tudo não comercial. Até hoje, seja entre os fãs, seja entre os jornais e revistas do país, ninguém sabe direito definir qual é o tipo de música do grupo. Alguns dizem Rock, outros House e por aí vai. A verdade, para o músico, é que eles não se encaixam em nenhuma terminologia, não por serem algo diferente de tudo, mas pelo fato de que em um disco podem estar de um lado estilístico e no disco seguinte do lado oposto: vai depender única e exclusivamente da fome e vontade musical dos meninos. Um estilo a gosto.

 

 

Na fotografia, o ritmo de transições é o mesmo. Já trabalhou com comunicação institucional para organizações não governamentais, com moda e com ativismo social e conscientização política. Assim como todo o resto na vida do artista, ele acredita que seu estilo está mudando e considera estar entrando agora no mundo da fotografia artística. No momento, está desenvolvendo um projeto em que mistura ficção científica com engajamento social. “Estou explorando agora ideias baseadas no futuro, tentando visualizar situações que se tornarão um problema em alguns anos, usando um estilo sci-fi, puxando as situações ao limite e criando fantasia sobre realidades”, detalha Chuchu.

 

 

Apesar de o artista acreditar que só agora se aproxima da fine-art, olhando seus trabalhos fotográficos anteriores é difícil acreditar que ele já não estava – e com louvor – atuando na área. Mas o turbilhão da mente de um artista é sempre um deleitoso mistério, cheio de irreverências inesperadas. No ano passado, ele declarou-se morto na fotografia. E passou a assinar o seu nome na web como Jim Chuchu (DEAD), explicitando a palavra ‘morto’ com letras maiúsculas. “É sério. Eu estava morto mesmo”, enfatiza o artista, “senti que não tinha mais nada para falar. Agora estou voltando, mas eu precisava de um tempo, precisava de uma folga. O MacMende me congelou”.

 

 

MacMende foi um marco na vida de Chuchu. Como sempre chega a fama a quem não a espera, a dele veio a cavalo. A surpresa aconteceu quando o grupo ‘Just a Band’ lançou o clipe MacMende. Da noite para o dia, a banda que tinha seu grupo seleto de fãs virou febre nacional. Empresas, jornais, produtoras, todos queriam botar as mãos no lançamento. Chuchu e os amigos da banda foram firmes. Dinheiro e patrocínio nunca foram a prioridade e dizer sim a qualquer proposta seria entrar no mundo da arte comercial.

 

 

“Foi um mês monstro”, define Jim, “a CNN apareceu na porta de casa para fazer uma reportagem, os fãs pediam para criarmos camisetas ou para fazermos um filme, as empresas queriam comprar o personagem do clipe. As pessoas ficaram p. que não quisemos nada disso. Foi difícil explicar, mas não queríamos comercializar a banda e transformar o clipe em uma fábrica de camisetas”. Eles fizeram jus ao que acreditavam. A arte pela arte e não pela fama. ‘Querem fazer o que querem’ é a definição dos meninos que explodiram de fama pelo país com o primeiro videoclip queniano considerado viral.

 

 

O ‘geek’ que já viajou o mundo performando ou apresentando seu trabalho fotográfico não foi criado no mundo da arte. Não tem pais artistas e nem estudou na área. O seu background é completamente científico. No colegial, especializou-se em ciência. Na faculdade, formou-se em programação. E até o dia do diploma, tinha um portfólio cru visual e musicalmente. Foi quando juntou uns trocados para comprar uma máquina fotográfica e a coisa toda deslanchou. Mas seria errado pensar que Jim Chuchu não tem formação. Ele estudou inúmeras de suas horas vagas. Como ele mesmo define ‘ele vem da escola da internet’. Passou os últimos 15 anos assistindo, procurando, escavando tendências, conhecendo arte pela tela e se inteirando do que mais inovador havia na área. Ele é o representante de uma geração de autoaprendizagem e de conhecimento compartilhado. A geração que combina o ativismo de sofá com a proatividade, formando o que há de mais orgânico do mundo contemporâneo. Jim Chuchu é a cara do que podemos esperar de bom do futuro.

 

Saiba mais sobre o trabalho de Jim Chuchu:

jimchuchu.com

 

 

Confira um dos videos do Just a Band:

GALERIA DE FOTOS