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Burkina FasoHassane Dao, um ícone do
design de móveis africano
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

 Começa a despontar na África do Oeste um exemplo da economia criativa. Juntando a arte ao funcional, designers de móveis trazem as cores africanas para dentro da casa: lâmpadas, mesas, cadeiras, estantes fundidas com uma das tradições mais fortes do continente, a produção de esculturas, transformando-se em uma forte expressão da contemporaneidade africana. Com formas curiosas, cores vivas e originalidade, as peças se destacam no mercado de móveis, e começam a ser o centro da atenção dos consumidores mais exigentes. Em Burkina Faso, o pioneiro Hassane Dao é o maior talento da área. Com criações únicas e furiosas, levou em 2010 o grande prêmio do Salão Internacional de Artesanato de Ouagadougou, o mais importante festival do gênero.

 

 

Hassane Dao, que já viajou o mundo para apresentar seu trabalho, acredita que o design de móveis combina a arte com uma necessidade pessoal: a relação que cada ser humano tem com seu próprio lar. Uma lâmpada? Uma mesa? Um cabide? O que faz uma pessoa se identificar o suficiente para ter o objeto dentro de sua casa? A peça escolhida não é uma expressão apenas do artista, mas também de quem o compra, marcando um traço da personalidade de seu futuro dono. “Se os móveis são necessidades, a arte os moderniza. O trabalho artístico tenta trazer um toque diferente que vai mostrar o outro lado do objeto. É uma mesa, mas também é algo mais”, filosofa o designer, explicando seu interesse pela área.

 

 

Autodidata, o artista nunca frequentou uma escola de design ou de arte. Entrou na profissão sem se fazer perguntas, sem questionar motivos ou razões. Começou a esculpir em madeira quando adolescente, pois encontrou nas curvas criadas, uma forma de desagoniar sua fúria. Hassane descobriu na produção um meio de trabalhar o seu entorno, o seu habitat e expressar seu estado interno ao talhar os traços da madeira. Depois disso, foi levado pela demanda. Seus móveis começaram a vender rapidamente e, ansioso, quis passar para a próxima fase. Queria procurar o único, o inexistente. Não gostava de trabalhar peças que já existiam: “Um dia você faz uma mesa, depois uma cadeira, e de repente as coisas se formam sozinhas. E você descobre sem querer que aquilo agora é você. Os móveis são o que eu sou”. Ao buscar a diferença do que já existia, desenvolveu seu estilo.

 

 

Começou a misturar materiais e criar artesanalmente suas próprias cores. Desenvolveu ainda uma linguagem simbólica de figuras que completam o desenho final da peça. Metal, tecelagem, madeira e calebasse se mesclam em um mesmo objeto formando o traço que caracteriza o trabalho do designer: a arte funcional detalhada. As peças são vivas, curvilíneas e trabalham com um xadrez de espaços preenchidos e vazios, dando forma ao contemporâneo africano. Enquanto uma mesa-peixe mistura ferro com três tipos de madeira e tecidos, uma estante-luz inova na composição curva e multicolorida. O artista, no entanto, explica que o processo de criação não é fácil, uma vez que fúria e loucura fazem parte do ritual que faz nascer uma obra.

 

 

“Quando não consigo trabalhar, fico colérico, é como se algo estivesse preso dentro de mim. E isso me deixa exausto. A arte é difícil porque envolve a loucura. Existem momentos que você quer fazer algo e simplesmente não sai e isso machuca, causa angústia. Eu sou violento na minha produção. Posso fazer um desenho e depois não gostar e eu passo mal, porque é algo que eu preciso vomitar, retirar de dentro de mim. Trabalho de madrugada até que saia alguma coisa, até que eu consiga me sentir livre. Quando consigo é como se eu estivesse liberando algo forte de mim. Sinto liberdade”, desabafa Hassane, contando ainda que apesar do amor intenso pela família, acredita que seu trabalho lhe rouba tudo, sobretudo a atenção.

 

 

O processo de criação para ele é uma violência que o impede de interagir até que consiga dar forma a uma ideia. E só assim se sente livre. O designer encontra na arte uma relação ambígua: “É a liberdade, mas ao mesmo tempo ela te rouba tudo. Não sei dizer o que é arte porque eu a vivo. É algo que leva minhas manhãs, tardes, noites, domingos e feriados. A arte para mim é trabalho, um trabalho que libera, mas que só me faz contente quando consigo exterioriza-lo. Para me sentir melhor, tenho que trabalhar”, conclui emocionado o artista, que acredita que na criação não existe linearidade. Um rascunho de uma mesa pode se transformar em uma estante. Se planejou ferro e tecido, pode mudar para madeira no meio do caminho. Materiais, formatos, cores – apenas o passo anterior pode indicar o próximo: “Se sua mente está dotada de energia de um pedido, surgem outras três ideias. Acho que a inspiração vem justamente dessa troca de energias”.

 

 

Hassane Dao, além de criador, é também o presidente da Associação Lukaré. Com o objetivo de formar jovens no domínio da arte moderna, compartilhar conhecimento e dividir o que tinha aprendido, ele abriu a instituição em 2006, que hoje conta com duas unidades e a participação ativa de 40 artistas da região, além de ter entrado para a lista de instituições de comércio justo do país. Com foco na integração e aprendizagem de jovens em dificuldade no comércio artístico, o centro investe na formação complementar dos estudantes, incentivando os alunos a se inscrever para aulas de alfabetização e fornecendo alimentação e assistência médica. O projeto funciona também como uma cooperativa de artistas, com galeria de exposição e venda de todos os trabalhos. Lukaré quer dizer celeiro em Peul, etnia de origem do fundador. Ali, como indica o nome, é um lugar onde se guarda a colheita, um lugar de conservação, proteção e valorização do que se foi cultivado: é o depositário do gênio criativo de um artista furioso.

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