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BotswanaBotswana também tem seu samba

Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Antes de morrer, Ntogwa não se esqueceu de ensinar à neta como mexer os pés, as pernas e o quadril em perfeita sincronia com o som do chacoalho feito de sementes de mopane amarradas ao tornozelo. Ele, que era o principal dançarino da pequena vila de Nswazi no interior semiárido de Botswana, fez com que sua paixão permeasse as entranhas da neta, que seguiu dançando pelos próximos 20 anos. Adulta, Allah decidiu que daria um jeito, mas que viveria apenas da música e do movimento.

 

 

Assim, em 2007, criou o próprio grupo de dança cujo nome homenageava o mentor: Bana Bana BaNtogwa. ‘Ba’ em tswana significa ‘quem vem de’. São dez as meninas de Ntogwa, todas cuidadosamente selecionadas conforme aptidão e dom para o estilo, e dois moços que participam ocasionalmente. Os treinos são constantes e Allah não é do tipo que pega leve. Durante os ensaios, corrige e dirige meticulosamente os passos do grupo. Passos que se não fossem outros mil detalhes, lembrariam o samba brasileiro. A dificuldade de articulação das pernas parece ser a mesma – do tipo que só vem com muita prática.

 

 

A dedicação trouxe uma chuva de prêmios para o grupo de dança contemporânea tradicional, como vez ou outra se auto-referem. A tradição, no caso, é a Kalanga, segunda maior etnia do país. Em 2009, com o primeiro álbum Ntogwa Thobela venceram o famigerado Botswana Music Awards e em 2010 levaram para casa o President Award, os dois maiores prêmios nacionais. E as coisas não pararam por aí, o Departamento de Arte e Cultura do Governo selecionou o grupo para representar o país durante o Commonwelth Game, que aconteceu na Índia no mesmo ano. Oportunidade inesquecível para as meninas, que contam ter deixado os anfitriões boquiabertos por todas as seis cidades que passaram.

 

 

Os reconhecimentos trouxeram um pouco de saldo para a conta, porém não o suficiente para cobrir os gastos de dez integrantes e, por isso, a questão financeira é momentaneamente a maior das preocupações das Bana Banas. A solução do grupo foi lançar um ‘viral’ no You Tube e, no momento, estão gastando toda a energia na gravação do vídeo. Com a visita do cineasta contratado do vizinho Zim, apelido carinhoso de Zimbábue, as meninas fizeram uma apresentação relâmpago no meio das ruas de Francistown para o take de algumas cenas. Não era a intenção, mas um ativista moderno confundiria a passagem com uma manifestação ao estilo flash-mob: elas chegaram, dançaram durante cinco minutos e se dispersaram, sem aviso prévio nem póstumo. Tudo durou menos de cinco minutos, o suficiente para movimentar o bairro, que parou para admirá-las.

 

 

Vestidas de saias cosidas de bolinhas de miçanga azul e branca e blusas pretas, representando as cores do país, desceram de uma Van, escolheram um ponto onde a calçada ficava mais larga, ligaram o som do carro munido de amplificadores e começaram a sapatear descalças no ladrilho, movimentando todas as partes do corpo e fazendo um jogo de cabeça e cabelo. A formação é em linha e enquanto uma se destaca para movimentos especiais sempre com o sorriso estampado na cara – e nada de sorriso tímido, é de praxe aquele com a boca generosamente aberta mostrando bem todos os dentes – os quadris das outras nove esperam ao fundo em sincronia ritmada com o barulho dos chocalhos amarrados aos tornozelos. E assim se segue o compasso.

 

 

Allah explica que o grupo combina seis tipos de danças tradicionais (assim como trajes): hobanna, hozo, mantshumani, mokomoto, sangoma, ndazula – as reinventando e incrementando-as com elementos contemporâneos: “Este ano, para o nosso segundo álbum, lançamos uma performance mais criativa, misturando três danças em uma só música. Nós também mudamos o som da música tradicional e adicionamos novos instrumentos, fomos as primeiras a fazer isso”, enfatizou a bailarina. O novo álbum das garotas Mamazala, lançado este ano, já abocanhou mais um President Award. Vovô Ntogwa não teria do que reclamar.

 

 

Quem estiver interessado em shows ou patrocínio segue o contato do grupo:

allahntogwa@cooltood.com

 

 

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