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MaliÁfrica por África
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Seydou Keïta, Malick Sidibé e Alioune Bâ são nomes que deixaram a marca do Mali na história da fotografia mundial. Seus retratos em preto e branco, que se espalharam pelas galerias de arte internacionais a partir dos anos 60, revelaram uma paixão pela arte de fotografar que percorria as veias do país tanto nos caminhos profissionais quanto nas manias da sociedade. Além do arquivo artístico, são inúmeros os álbuns de família preservados como tesouros nos armários de cada casa que guardam um valioso registro das últimas décadas no país. Oficializando por vez a tradição, nos anos 90 o Mali ganhou a responsabilidade de tornar-se a sede da Bienal Africana de Fotografia ao mesmo tempo em que sua capital Bamako recebia o título de Capital Africana da Fotografia.

 

 

Dos renomados fotógrafos para a nova geração, a arte tomou novos rumos. Os pioneiros criaram um estilo característico trabalhado em interiores em pequenos estúdios montados. O formato predominante era o retrato e os sujeitos da fotografia agrupavam personagens da sociedade, normalmente vestidos especialmente para a ocasião. A força do trabalho estava na busca pelo encanto, na estética e na perfeição dos contrastes criados. Hoje os jovens autores querem ir para as ruas, explorando as temáticas da sociedade contemporânea. Se antes, os fotógrafos trabalhavam com a ciência da felicidade hoje os novos artistas caminham na direção da denúncia, evocando os problemas sociais através da fotografia intelectual e engajada.

 

 

Reunindo os novos talentos, a Bienal Africana da Fotografia se tornou um símbolo do protagonismo no continente, juntando as coleções mais importantes da arte contemporânea africana e convidando talentosos fotógrafos para se engajar em intensas reflexões sociais. O evento abriu as portas para que a África se mostrasse ao mundo sob seu próprio olhar. Por causa da guerra que tomou conta do país, a mostra do ano de 2013 foi cancelada. No entanto, com a estabilização e a esperança do fim da crise que toma conta dos cidadãos malianos, o mundo da fotografia no país recomeça a esquentar e a promessa de um festival próximo anima os profissionais da área, que já não vêm a hora de se reencontrar no espaço que com intensidade mostra ao mundo suas ideias.

 

 

Na sua última edição, em 2011, o tema “Por um mundo sustentável” foi o escolhido e 500 trabalhos foram selecionados para um diálogo fecundo buscando trazer a visão do continente sobre o futuro da humanidade e os caminhos a serem tomados. O evento ofereceu uma reflexão sobre a busca de um mundo sustentável, com a intenção de delinear o ponto da situação e prestar atenção aos sinais e formas de possível resistência. A forte adesão do tema proposto confirmou o compromisso social e político dos artistas africanos, que colocaram as preocupações ambientais, antes limitadas a um pequeno círculo de visionários, no centro de todos os debates.

 

 

Entre os selecionados estava o jovem Seydou Camara, talento que despontou no país em 2009 durante um concurso internacional de fotografias que propunha a temática “Fronteiras”. Camara, que vê a imagem como a representação rigorosa de uma sociedade, escolheu trabalhar com a temática do albinismo, sujeito emblemático no país envolto de preconceitos e mitos, e criou uma coleção chamada “Bibiana”, que retratava a fronteira diária vivida por eles. Depois disso, sua carreira guinou e passou a ser chamado por galerias do mundo inteiro para trabalhos e exposições fotográficas. “Minha demanda, minha linha direta de trabalho sempre foi a de evocar a diferença. Se eu sou negro e outro é branco, a gente se completa. As diferenças não marginalizam porque sempre se complementam”, ilustrou o artista.

 

 

Depois da coleção Bibiana, o artista realizou uma série de reportagens fotográficas sobre os manuscritos de Tumbuktu, que mais uma vez recebeu prestígio internacional, quando passou a trabalhar para os jornais internacionais como Le Monde e La Liberation. Seydou, que é formado em direito esclarece que trabalha com a fotografia intelectual: “Meu trabalho não é apenas sensorial, assim como não pretendo atingir somente a beleza estética. Procuro temas conceituais que possam trazer uma reflexão profunda sobre um determinado aspecto da sociedade”. A escolha da segunda coleção vem desse viés. Tumbuktu é considerado um dos maiores centros de conhecimento da África, onde durante séculos escritores e intelectuais se encontravam para trocar livros e sabedorias. “Uma vila de paz, diálogo e tolerância, cerne de grandes pensadores que se instalavam para instrução e crescimento intelectual”, nas palavras do artista, um dos últimos a fotografar os manuscritos antes da guerra, em que inúmeros foram perdidos e queimados.

 

 

Seydou explica que com a crise os trabalhos e as entrevistas diminuíram, mas ele acredita que a fase ruim no Mali está acabando e já sente na capital o clima voltando ao normal. Ainda em 2013, depois da guerra voltou a Tumbuktu e decidiu por lá mesmo começar a fazer a nova coleção: está fotografando as pessoas da cidade em suas portas. “Assim como as bibliotecas e as universidades de Tumbuktu, suas portas também são um mistério. Cada ornamento possui um significado e quero explorar isso e refletir através da fotografia. Os segredos da cidade não terminam em seus manuscritos”, certifica o jovem, que com seu trabalho lembra o mundo que a foto é mais do que um registro, mas uma memória viva do continente.

 

 

Para saber mais sobre a Bienal Africana de Fotografia:

http://rencontres-bamako.com/?lang=fr

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