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QuêniaDavid Tosh: a revelação
do cinema queniano 
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

David Tosh é uma das aspirações do cinema africano e, atualmente, o maior sucesso do cinema queniano. Com seu primeiro filme lançado no ano passado, abocanhou premiações em festivais do mundo todo. ‘Minha Vida em Nairóbi’ narra a história do jovem Mwas, que vem da área rural e que se muda para Nairóbi para dar vida a carreira de ator, mas acaba vivendo o cotidiano das favelas da capital. Entre as conquistas do longa, está a indicação para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro, se tornando o primeiro na história do país a ser considerado para o prêmio. Tosh, que vem de uma carreira foguete, também está na lista dos oito africanos mais interessantes de 2012 divulgada pela revista americana New Yorker. Confira a entrevista com o diretor que faz parte de uma geração promissora do Quênia, que vem rompendo barreiras culturais e construindo uma escola de inovação no mundo da arte.

 

 

Em ‘Minha Vida em Nairóbi’, quem é Mwas, a personagem principal? Quem você queria representar?
Mwas é a juventude hoje. Eu queria mostrar o que eles estão passando. Nairóbi é dividida. Existe esse lado (de Mwas e da vida nas favelas da cidade) e o outro lado, ponto. E este outro lado não quer saber daquele. Já as pessoas nas favelas sabem que esse outro lado existe e se sentem excluídas, ignoradas. E o normal é que ninguém pensa em quem são essas pessoas, que tipo de vida levam. Ter essas respostas era fascinante para mim: Será que eles têm uma vida como a minha? Será que eles têm amigos? Com ‘Minha Vida em Nairóbi’ (MVN), eu queria entrar no cotidiano dessa outra metade de Nairóbi, porque só quando você faz isso, é que percebe que eles têm uma vida interessante: riem, amam, têm tesão, têm o coração partido. Para os jovens, como Mwas, que se envolvem com crimes, roubar é só um emprego. Eu quis mostrar o que ele estava passando. Quando ele vai para Nairóbi, sua ideia era ser ator. Assim como ele, muitas crianças só querem seguir seus sonhos, mas dependendo de onde você nasce, a pressão, a depressão e o desespero te levam a fazer certas coisas e essas certas coisas, assim de repente, se tornam sua vida. Eu quis colocar na mesa a pergunta, com as opções que tinha Mwas, se fosse com você, o que você faria?

 

 

Em Minha Vida em Nairóbi, além da vida dupla de Mwas entre esses dois mundos de Nairóbi, você aborda diferentes temáticas de lutas sociais, quais você destacaria?
Bom, são muitas. Além dos aspectos da pobreza, acho que o principal é o ‘sistema’, que está de alguma forma quebrado. O que se pode esperar de jovens sem nenhuma oportunidade? O que esperam que eles façam? E mesmo assim eu acho que no Quênia, as pessoas são resilientes, encontram saída no meio dessa situação, inventam alguma ideia e arrumam o que fazer. Outro dia vi na televisão um cara que abriu um banheiro público do lado de uma estação de ônibus e colocou uma televisão na cabine. Agora está fazendo o seu dinheiro. De onde vem esse cara? E tem tantos caras como ele, encontrando soluções. Acredito que no filme isso seja um dos meus maiores destaques: o sistema e como as pessoas se encontram dentro desse sistema. Sabe, eu não sou um ativista, não estou aqui para fazer filmes do tipo: ‘faça alguma coisa’! Eu apenas pinto o quadro, mas não vou dizer como é e qual o significado dele. Acho que esse é o meu tipo de ênfase nos filmes, eu gosto de destacar a sociedade como ela é, e a partir daí, cada um, dentro de sua própria competência, vai saber o que fazer.
Como está a indústria do cinema atualmente no Quênia e como

 

 

MVN mudou esse cenário?
Neste momento é difícil fazer um filme como Minha Vida em Nairóbi. É preciso de muito dinheiro para conseguir uma boa câmera, bons equipamentos e uma boa equipe. E por fim, uma boa pós-produção para conseguir contar a sua historia. Eu fui sortudo e consegui. E esse é o resultado que você viu no filme. Mas as coisas estão mudando. Com o MVN, os africanos, principalmente os quenianos, ficaram agradavelmente surpresos do que pode vir de dentro da África. É diferente dos filmes que estão acostumados, todos de Hollywood. Eles podem se relacionar com as histórias, estão olhando para suas vidas na tela, vendo seu próprio povo e lugares que reconhecem. Isso é um grande salto para nós.

 

 

Vai levar um tempo, mas vai acontecer. Já está acontecendo. A percepção dos quenianos e africanos sobre filmes está mudando. O primeiro elogio que as pessoas têm feito ao MVN é “Uau, nós podemos fazer filmes desse jeito?”. A tarefa difícil era a de levar o povo para ver um filme queniano, mas agora nós superamos isso e, se fizermos um novo filme, eles definitivamente virão. Para mim, isso é um passo a frente. Eu pessoalmente não esperava que ‘Minha vida em Nairóbi’ ganharia tanta atenção como ganhou, mas de repente está tomando a direção que gostaríamos, pois primeiro você tem que ganhar a África apreciando seus filmes. Se os africanos forem capazes de aceitar seus próprios filmes, serão capazes de fazê-los. Aí, eles irão para o cinema e tudo fará sentido.

 

 

MVN é o seu primeiro filme, você acredita ter definido um estilo com ele? Qual seria?
Acho que é baseado no instinto, sentimento e autenticidade. Sou louco por autenticidade. Se estou assistindo um filme e sinto que aquilo nunca poderia acontecer, está exagerado, eu saio do filme. Fazer ser real é a linha guia o meu estilo. Dependendo da história que estou contando, eu reajo ao que o filme é e ao que quero dizer. Em termos de técnicas, eu amo câmera fixa, porque sinto que cria realidade, você sente que está lá. Mas já tremida não sou muito fã, acho que assim você acaba se perdendo.

 

 

MVN tem alguns traços que lembram Cidade de Deus, sobretudo na temática. O filme brasileiro te inspirou de alguma forma?
Claro! Tem a ver com o que eu amo sobre filmes. Eu gosto de ser entretido, claro, mas ao mesmo tempo, não quero sentir que o que estou vendo não é real, nunca poderia acontecer. Talvez por isso eu não seja um fã de ficção científica. E foi isso que amei de Cidade de Deus, foi um filme que foi muito bem feito, mas você sente até que foi alguém documentando a história real de uma vida acontecendo. A autenticidade, os atores sendo tão naturais, a câmera flutuando livre e o look verdadeiro foram as coisas que amei. Eu nunca estive no Brasil, mas de alguma forma eu podia enxergar aquela vida, enxergar o Brasil através do filme.

 

 

Confira o trailer do filme:

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