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TanzâniaConhecimento e tecnologia local
na construção das habitações tradicionais
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Demonstrar e preservar a cultura dos grupos étnicos tanzanianos é um dos principais objetivos do Village Museum, localizado na cidade de Dar es Salaam. O museu a céu aberto oferece um importante registro histórico da arquitetura do país, reproduzindo as diferentes habitações tradicionais de cada uma das populações nacionais e revelando as tecnologias indígenas utilizadas durante a sua construção. Todas as casas são autênticas, erguidas e preservadas por membros dos próprios grupos étnicos.

 

 

Os organizadores do Village Museum explicam que o museu reconstruiu as casas como elas eram, no máximo, há uma ou duas gerações atrás e que hoje, na Tanzânia, os modelos ainda podem ser encontrados, apesar de estarem desaparecendo conforme vão sendo substituídos por novas construções de tijolos ou de chapas de ferro: “o museu é uma forma de permitir que as comunidades se expressem, apreciando e promovendo o nosso patrimônio através da educação interativa e dos programas recreativos”. Confira os detalhes da construção de cinco dos modelos expostos (ilustrações) e saiba mais sobre os seus arquitetos:

 

 

Wazaramo:
Os Wazaramo constituem uma comunidade costeira que habita a área imediatamente de entorno da cidade de Dar es Salaam. Eles são predominantemente islâmicos e compartilham muitos de seus traços culturais com os povos das ilhas de Zanzibar, Máfia, Pemba e Comoro. Os wazaramo mantêm pouco ou nenhum gado, subsistindo principalmente da agricultura. Cultivam arroz, kassava, sorgo, milho, laranja e castanha de caju. Algumas aves, algumas comeias e, ocasionalmente, gatos, cabras e ovelhas. Na arquitetura, em geral, a casa possui forma retangular e o teto em forma de v invertido. As paredes são construídas com montes de palhas amarrados e dispostos sobre cruzados de madeira. Utilizam sapê como material comum para as coberturas e, algumas vezes, grama para a proteção lateral.

 

 

Nyambo:
Os Nyambo são pessoas de língua bantu, conhecidos pelas habilidades em confecção de cerâmica e canoas, cujo alimento básico é a banana. Assim, a paisagem de uma vila Nyambo é composta de dois principais elementos: o iweya (gramado aberto e matagal) e o kibanja (jardim caseiro de banana), lugar onde acontecem todas as cerimônias, funerais e casamentos. A casa Nyambo é do tipo ‘Mushongo’, ou seja, casas de base redonda construídas sobre a grama, sustentadas por grossas estacas de madeira. A construção é iniciada pelo telhado ao invés de pelo solo e a casa é erguida a base de blocos de bambu estreitamente amarrados por gramíneas de boa resistência. O chão é inteiramente coberto com grama.

 

 

Maasai:
O Maasai é grupo étnico nilotas seminômade original da região do Nilo, que vivem hoje no norte da Tanzânia e no sul do Quênia. Como pastores estão fortemente ligados a terra e dependem dela e do estoque de animais para subsistência. Os Maasai vivem em bomas, um grande sítio redondo marcado por cercas de espinhos e por um bloqueio para o gado no centro. Cada boma é composto de quatro a 30 casas como o modelo exemplificado na ilustração, conhecido como manyata. As edificações são levantadas com uma mistura de terra com esterco de vaca, que serve para reforçar a construção. O telhado é plano com a base em espiral.

 

 

Gogo:
Os Gogo vivem na região de Dodoma, no centro da Tanzânia. Apesar de serem pessoas da língua Bantu, adotaram muitos traços da cultura de seus vizinhos, os Maasai e, assim como eles, sangram o gado para obter sangue fresco para o alimento. A casa dos Gogo é construída da base para o topo, sustentadas por estacas de madeira e suplementadas por galhos mais finos. O esqueleto de apoio é então preenchido com lama e pedras constituindo as paredes. A casa pode apresentar três ou mais quartos, dependendo do tamanho da família. O teto é construído da mesma forma como se fosse uma nova edificação sobrepondo a casa, se posicionando alguns centímetros à frente e acima, criando um pequeno intervalo entre as duas paredes. Coberta por lama e terra, o telhado deve ter resistentes sustentações, fortes o suficiente para suportar as plantações de abóboras e o peso das mulheres que sobem ao teto despejando cereais para secagem. Durante a noite, os animais descansam dentro de casa e ao amanhecer são logo retirados para pastagem. Os homens dormem ao lado do gado, para protegê-lo das invasões maasai e dos animais selvagens.

 

 

Fipa:
Fipa são pessoas de língua Bantu, que vivem no sudoeste do planalto da Tanzânia. Como atividade econômica, cultivam amendoim e milho ou pescam. Historicamente são conhecidos pelas aprofundadas tecnologias de fundição de ferro. A casa dos Fipa é do tipo “msonge”, ou seja, com design em forma de cone simples. É feita de baixo para cima, com pequenos paus, palhas e gramíneas. Dentro da casa, as paredes e o teto são rebocados com argila para torná-los mais fortes, evitando raios de sol e gotas de chuva. A porta é pequena, mas a casa é grande o suficiente para abrigar um bom número de pessoas. A construção propositalmente não possui janelas, técnica utilizada para mantê-la aquecida e protegida do frio.

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